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Especialista em oftalmologia pediátrica. Dedica-se também ao estudo do estrabismo, das doenças dos movimentos oculares e da retina.
Não há ligação direta entre a exposição excessiva a equipamentos eletrónicos e o desenvolvimento da miopia, segundo a médica oftalmologista Rita Gama. Mas a verdade é que tanto a miopia moderada como a alta estão a atingir cada vez mais pessoas. A especialista esclarece todas as dúvidas.
A massificação das novas tecnologias e, em particular, a crescente acessibilidade das crianças a dispositivos como tablets e smartphones têm levantado questões relativas à influência no desenvolvimento infantil. Há vantagens, desvantagens e alguns aspetos ainda controversos no uso de dispositivos eletrónicos. Uma das principais controvérsias está na ligação à miopia.
Não é surpresa que a prevalência da miopia a nível mundial esteja a aumentar. Se este aumento continuar, a Organização Mundial de Saúde prevê que, no ano 2050, 50% da população mundial vá ter miopia e 10% alta miopia. No entanto, é ainda controverso o papel dos dispositivos eletrónicos neste aumento. A médica oftalmologista Rita Gama explica.
1. O que é a miopia, quais são as causas e como se manifesta?
A miopia é a dificuldade em ver ao longe. A causa mais frequente é o tamanho do olho, que nos míopes é maior do que nas outras pessoas. Nem a televisão, nem os computadores, nem os tablets causam miopia.
Sabemos de estudos feitos nos países orientais, onde a miopia é muito frequente, que crianças que passam mais tempo ao ar livre desenvolvem menos miopia. As atividades ao ar livre levam à libertação de hormonas que tornam o crescimento do olho mais harmonioso e não cresce “demais”. Por oposição, as crianças que passam mais tempo dentro de casa usam mais estes equipamentos, mas não está demonstrado que causem miopia. Também não sabemos se estes fatores serão mais importantes nos orientais do que nos ocidentais.
Não parecem ser os tablets a causa principal do aumento da miopia, mas o estilo de vida que as crianças do século XXI têm, que se passa muito mais dentro de casa do que no exterior.
2. Em que casos há maior probabilidade de vir a desenvolver miopia?
Se há história familiar.
3. Ser míope pode levar ao desenvolvimento de outras anomalias ou patologias?
Não. Cerca de 10% das miopias são altas miopias (graduação maior do que 6 dioptrias). Só a alta miopia é que causa diminuição importante da acuidade visual por doenças na retina.
4. O número de pessoas com miopia não para de crescer em todo o mundo. Porquê?
Não sabemos. Tanto a miopia moderada como a alta estão a atingir cada vez mais pessoas. A preocupação com estas estatísticas é dirigida à alta miopia apenas, pela incapacidade que origina. Poderão ser fatores genéticos ou relacionados com o meio ambiente. Não sabemos.
Estudos recentes concluíram que a utilização de smartphones está associada a olho seco nas crianças, sendo o principal fator de risco a duração da utilização destes dispositivos. Por outro lado, as pausas durante a visualização de ecrãs e o tempo despendido em atividades ao ar livre são fatores protetores.
5. A cirurgia deve ser uma opção?
A cirurgia da miopia é apenas um substituto dos óculos ou das lentes de contacto. Deve ser feita quando a pessoa que os usa não pode/quer usar mais. Nem todos os olhos podem ser operados. Há exames próprios para perceber que olhos têm indicação para serem operados.
6. Que tipo de inovações e progressos têm sido feitos no campo das anomalias visuais, nomeadamente relacionados com a miopia?
Na prevenção, não existem progressos. Não sabemos como a evitar. Na correção ótica: lentes de contacto cada vez mais confortáveis e com uma gama de graduações maior. Cirurgias múltiplas para tirar os óculos. No tratamento das doenças da retina causadas pela alta miopia: injeções intraoculares que travam a evolução destas doenças.
7. Em algum momento da vida, o grau de miopia pode regredir?
Pode, mas é muito raro.
1. Os dispositivos eletrónicos devem ser evitados nas crianças com menos de 2 anos (exceto videochamadas).
2. Entre os 3-5 anos os pais devem selecionar os conteúdos e assistir com os filhos. O uso não deve exceder 1h/dia.
3. Acima dos 5 anos, os pais devem supervisionar o tempo de utilização e escolha de conteúdos, garantir que a criança dorme bem e tem atividade física adequada. Proibir a utilização em algumas divisões da casa, como a cozinha (à hora da refeição) e o quarto, e ensinar regras de socialização on e offline. O uso não deve exceder as 2h/dia.
4. Em qualquer idade: fazer pausas a cada 20 minutos de utilização (regra 20/20/20), estimular as atividades ao ar livre (diminuem o olho seco e eventual aumento da miopia) e desligar os dispositivos eletrónicos uma hora antes de dormir.
Todos estes conselhos reforçam a função supervisora dos pais e a oportunidade de aprendizagem e partilha que as novas tecnologias proporcionam. Pela atração que exercem, os dispositivos eletrónicos têm invadido a forma como a família funciona, incluindo pais e filhos.
Estas regras estão adaptadas às crianças, mas é muito importante que os pais deem o exemplo. Siga-as e desligue também os seus equipamentos. Encontrar alternativas aos dispositivos eletrónicos não os substitui, é saudável e vai fazer o seu filho crescer melhor.