

Partilhar nas Redes Sociais
O excesso de iluminação não natural pode trazer consequências que vão além da qualidade do sono. Especialmente nas crianças.
Desde pequenos somos ensinados a lavar os dentes, a cuidar da alimentação, a permanecer longe dos maus vícios. Somos alertados para uma série de elementos negativos de forma a levarmos uma vida mais saudável. Mas, e se lhe disséssemos agora que para viver com plena saúde é importante ter em conta uma questão aparentemente inofensiva, mas com graves consequências: a luz artificial à qual estamos diariamente expostos.
Decerto já ouviu falar dos malefícios da exposição excessiva aos ecrãs digitais. Numa altura em que o uso dos dispositivos eletrónicos aumenta a passos largos – em qualquer faixa etária, mas sobretudo nas camadas jovens –, descobrimos que a luz azul é prejudicial à pele e aos olhos.
A solução não passa apenas por desligar a televisão ou pôr de lado o computador umas horas antes de se deitar. A resposta certa está também em apagar as luzes e sair à rua. Tão simples quanto isto.
Um estudo norte-americano com crianças em idade pré-escolar demonstrou que a melatonina, conhecida como a hormona do sono, se mantém suprimida durante, pelo menos, 50 minutos após as luzes serem apagadas para dormir.
Durante milhões de anos, o organismo humano funcionou em sintonia com o ciclo solar. Luz durante o dia, escuridão à noite. Descobrimos o fogo, criámos as velas, surpreendemos com os lampiões a gás. Continuámos a “acordar com o cantar do galo e a dormir com as galinhas”.
Até que chegou a luz elétrica. A partir daí, tudo mudou. Passamos os dias dentro de portas e ao anoitecer… continuamos despertos. Com as luzes ligadas, as televisões em sinal permanente, os teclados a bater e os dedos a deslizar pelos ecrãs táteis.
Uma das principais consequências desta alteração está relacionada com o sono: a exposição à luz artificial – seja nos ecrãs, no mundo digital ou simplesmente na vida debaixo das lâmpadas – determina que dormimos pior. O relógio biológico perde-se no tempo, o humor entra em colapso emocional, as hormonas descontrolam-se, o ritmo cardíaco tem picos de arritmias, a ponto de alguns cientistas falarem mesmo numa relação da luz artificial com o desenvolvimento de certos tipos de cancro.
Preocupado? Basta voltar ao ciclo natural claro/escuro, desligar as luzes e os aparelhos eletrónicos à noite e aproveitar o dia para atividades no exterior. E assim se recupera o ritmo normal. Não é por acaso que ouvimos os avós dizerem que “deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer”!
Duas razões para passar mais tempo ao ar livre:
1. A luz solar estimula a libertação de dopamina diretamente nos olhos, um componente que parece conter o crescimento excessivo do globo ocular – uma das causas de miopia.
2. A luz solar estimula a fixação de vitamina D, responsável pela saúde cerebral e do sistema imunológico e que pode regular a saúde ocular.
Os primeiros pecam por excesso. Os segundos, por escassez. As crianças e os jovens passam grande parte do tempo, fora das salas de aula, entre ecrãs digitais. Em casa, o estudo é habitualmente feito já fora de horas, sob luz artificial.
No caso dos idosos, parte da dificuldade está associada ao desgaste do olho, que não permite o alcance adequado de luz na retina. Para receberem a quantidade certa, teriam de ter mais tempo de exposição à luz natural – o que nem sempre ocorre, também por causa dos problemas de mobilidade.
Os efeitos da exposição à luz artificial atingem sobretudo as faixas etárias mais vulneráveis. Mas não podemos esquecer que este é um problema geral: 75% da população mundial está exposta à luz artificial diariamente à noite – por trabalho (na Europa, o trabalho por turnos tem uma prevalência de aproximadamente 20%), por questões médicas ou lazer.
Sem contar que algumas pessoas simplesmente dormem com as luzes acesas. E que, mesmo durante o dia, nem todas as casas ou edifícios de trabalho recebem muita luz natural, o que obriga ao acender das luzes artificiais pela manhã. Também os estudantes passam horas fechados, sem sol e sujeitos à iluminação artificial constante.
A intensidade da luz e a direção da mesma podem também ter influência. É importante ter em atenção que os raios de lâmpadas artificiais – incandescentes, LED ou fluorescentes – não devem estar diretamente sobre o rosto das pessoas ou sobre os objetos, para que o olho não seja estimulado nem demasiado nem o contrário.
Num local muito iluminado, o olho faz força para a pupila fechar. No polo oposto, num local com fracas condições de iluminação, o olho esforça-se para captar a luz.
O mesmo princípio deve ser aplicado durante a utilização de computadores, televisões, smartphones e tablets: regule o brilho e garanta que estes aparelhos são utilizados a uma distância mínima de um braço, pelo menos.
A cada duas horas, o melhor é descansar, caminhar e observar cenas amplas.
Mais eficientes, mais económicas. A iluminação do futuro, defendem alguns até. Afinal, podem não ser tão benéficas assim. Grande parte da exposição não natural à luz azul é feita através das lâmpadas LED brancas, cuja tecnologia usa um emparelhamento de um LED azul com um fósforo de energia mais baixa. Também as lâmpadas fluorescentes compactas, quando usadas a curta distância e de forma prolongada, podem ser a causa da exposição a níveis ultravioleta próxima aos limites estabelecidos para proteger de lesões, tanto na pele como nos olhos.
Apesar de se recorrer a poucos recursos enérgicos para a produção destas lâmpadas, a verdade é que podem representar riscos para a saúde. A intensidade dos efeitos é três a quatro vezes maior durante a noite.
Não queremos com isto dizer que devemos abandonar todo o conceito dos gastos energéticos. Uma das soluções apresentadas passa por utilizar as lâmpadas LED brancas durante o dia – aproveitando sempre que possível a luz natural – e recorrer às luzes com uma luminosidade mais amarelada durante a noite.
Nem toda a gente dá o devido valor, mas a iluminação da casa deve ser pensada de forma cuidada. Não basta escolher e colocar as lâmpadas tendo em conta apenas a estética ou o preço. Uma iluminação errada pode ser a causa do desconforto!
Para evitar a exposição à luz artificial durante a noite recomenda-se:
• Uso de óculos amarelos ou com filtro de luz azul;
• Filtros de luz azul nos aparelhos eletrónicos;
• Redução do uso de lâmpadas e dispositivos eletrónicos ao escurecer;
• Preferência pelas luzes incandescentes.