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Crianças cortina

Madalena Monteiro

Médica oftalmologista

Médica de Oftalmologia no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra na área da oftalmologia e estrabismo; responsável pelo rastreio de retinopatia da prematuridade na Maternidade Bissaia Barreto. Pertence à equipa multidisciplinar do centro de referência de retinoblastomas e à equipa de coordenação do Rastreio de Saúde Visual Infantil da região centro.

“Grande parte dos problemas de visão é diagnosticada nos rastreios”

O seu filho já fez o rastreio visual? Com o ano letivo já arrancado, é fundamental que as crianças se sintam e se mantenham confiantes na escola.

Se ainda não o levou a fazer um rastreio, está na hora de o fazer. Só assim se conseguem verificar dificuldades que podem influenciar o desenvolvimento da criança e do jovem. A oftalmologista pediátrica Madalena Monteiro explica em que situações se devem fazer os rastreios, quais os sinais a que devemos estar atentos e as consequências das patologias não diagnosticadas.

Quando deve ser feita a primeira visita ao oftalmologista?

Nas crianças, o primeiro rastreio oftalmológico deve ser realizado por volta dos 3 anos de idade, sem nunca esquecer que o primeiro rastreio é feito pelo pediatra, ainda na maternidade e logo após o nascimento, em que se pesquisa o reflexo vermelho do fundo.

De quanto em quanto tempo é aconselhável fazer um rastreio à visão das crianças?

É aconselhável realizar um rastreio com 1 ano de idade, aos 3 e depois aos 5-6 anos, antes de entrar na escola. A partir do momento em que entram na escola primária, as crianças já se sabem queixar e os pais e os professores já dão mais facilmente conta de pequenas dificuldades, pelo que a consulta deverá ser marcada caso haja alguma queixa.

Ao realizar uma consulta oftalmológica no início do ano letivo estão a evitar-se problemas durante o ano

O mesmo se aplica aos jovens que se encontram em fase escolar?

Deverão ser avaliados sempre que houver queixas. O rastreio é uma consulta para pesquisa de alterações. As crianças com patologias já diagnosticadas devem fazer a vigilância segundo o que o oftalmologista aconselhe de acordo com a patologia que apresentem.

Qual a importância de realizar o rastreio à visão dos filhos antes do início do ano letivo?

Ao realizar uma consulta oftalmológica no início do ano letivo estão a evitar-se problemas durante o ano e a prevenir possíveis interferências no processo de aprendizagem.

É frequente haver problemas diagnosticados nos rastreios de rotina?

Sim. Grande parte dos erros refrativos nas crianças pequenas é diagnosticada nos rastreios, uma vez que as crianças ainda não se queixam.

Portugal está melhor do que muitos outros países europeus em que não há rastreios nacionais institucionalizados.

Em média, quantas crianças fazem em Portugal uma análise regular à visão?

Já está implantado em Portugal, desde o ano passado, um rastreio oftalmológico nacional, pelo que todas as crianças são rastreadas aos 2 e, posteriormente, aos 4 anos de idade. Estes rastreios são realizados nos centros de saúde, por enfermeiros treinados, e avaliados nos hospitais, por oftalmologistas pediátricos. Neste momento, Portugal está melhor do que muitos outros países europeus em que não há rastreios nacionais institucionalizados.

As dificuldades visuais nas crianças, em Portugal, são comuns?

Felizmente, há cada vez uma maior percentagem de crianças com o diagnóstico de patologias oftálmicas detetado, cada vez mais cedo, fruto do melhor e maior acesso a serviços de saúde, mais informação e ao início do rastreio nacional.

Que tipos de anomalias visuais devem ser despistados?

Nos recém-nascidos e crianças mais pequenas, devem ser despistadas opacificações dos meios e leucocórias (reflexo branco da pupila). Em crianças a partir de 1 ano de idade, devem ser pesquisados, além destas, os erros refrativos (hipermetropias, miopias e astigmatismos), as anisometropias (diferença refrativa entre os dois olhos) e o estrabismo.

Uma dificuldade visual pode levar a um atraso no desenvolvimento da criança, quer a nível cognitivo, motor ou social.

Qual o impacto de uma insuficiência visual na vida das crianças?

Uma dificuldade visual pode levar a um atraso no desenvolvimento da criança, quer a nível cognitivo, motor ou social. A criança que vê mal demora mais tempo a aprender, a andar e a correr, a descer escadas. Já na escola, tem mais dificuldade em fazer os trabalhos, pelo que se desinteressa facilmente pela pintura ou por grafismos, com repercussão mais tarde na leitura. Pode também dificultar a interação com os seus pares.

Quais são as consequências de uma anomalia visual não diagnosticada ou tratada incorretamente?

Pode levar ao desenvolvimento de uma ambliopia, que é basicamente a ausência de desenvolvimento da visão não recuperada por óculos ou cirurgia. A visão desenvolve-se nos primeiros oito anos de vida, em que os primeiros quatro são mais críticos. Se existe alguma patologia que dificulte a formação nítida das imagens na retina de um ou ambos os olhos, a visão não se desenvolve e surge a chamada ambliopia. Após os 7-8 anos, esta situação não é recuperável. A criança terá uma baixa de visão de um ou eventualmente ambos os olhos para o resto da vida, com repercussão sobre a aprendizagem e a interação social.

Que conselhos recomenda, tanto a pais/encarregados como alunos?

Devem fazer o rastreio aos 2 e 4 anos conforme institucionalizado a nível nacional e um outro ao entrar na escola primária. Se houver patologias oftálmicas na família, as crianças devem ser vistas precocemente por um oftalmologista, que depois indicará qual a periodicidade das consultas seguintes.

Quais são os sinais/sintomas a que se deve estar especialmente atento?

Lacrimejo, fotofobia, reflexo esbranquiçado da pupila, perda de equilíbrio e dificuldades de medir distâncias e aparente défice de visão.

Que tipo de lentes são recomendadas para os óculos infantis? Que características são fundamentais?

 As lentes das crianças devem ser leves e finas, com boa qualidade ótica, resistentes aos riscos e com proteção contra os UV.